terça-feira, 8 de março de 2005

"UMA PIRUETA! DUAS PIRUETAS! BRAVO! BRAVO!

Fiz um programa que já nem eu imaginava que podia ser tão maravilhoso! Fui ao Circo!
De início o meu discurso e da minha mulher era o seguinte: "Vamos levar o João, nosso filho, ao Circo." Como se apenas ele fosse curtir... Mas agora podemos dizer: "Fomos os três ao circo".
Era um circo familiar, sem muita pirotecnia, mas com muita alma de Circo. Os mesmos integrantes que, ora estavam no picadeiro, logo depois preparavam os gostosos cachorros-quentes. Como diria Gonzaguinha: "com um sorriso nos lábios...", como se pudessem ensinar a rir, não só no picadeiro, mas também atrás das panelas de salsicha.

No início, o grande mestre-de-cerimônias dava as boas vindas, chamando um número onde sete mulheres coreografavam New York, New York. E o pior é que o Sinatra morreu sem ver aquilo...rsrsrs, pobre Sinatra... Depois veio a contorcionista se fingindo de boneca. Um homem a dobrava e desdobrava até que, surpresa!... era gente! Meu filho, com os olhos arregalados, como se pudesse, com eles, filtrar todas luzes do espetáculo, nem ria. Havia uma preocupação nossa com relação à reação dele. O espetáculo tinha 2 horas de duração e, sabe como é... criança de 2 anos e meio dispersa-se facilmente. Mas os olhos atentos e as pupilas dilatas, como se pudessem sugar o picadeiro inteiro, denunciavam o fascínio.

Então vieram os palhaços, as cambalhotas, os tombos, e, por vezes, um fingia não saber que o outro estava atrás, prestes a lhe pregar uma peça, e a criançada gritava avisando: "Olha!!! Cuidado!!!", mas de nada adiantava. Tombo de novo... Peguei-me rindo como criança. Olhei para o lado e meu filho continuava absorvido por aquilo tudo, sem piscadas. Coloquei então a mão na frente de seus olhos (molecagem de palhaço...), e, sem perceber a brincadeira, ele apenas abaixou o rosto. Percebi que ele não precisava daquela tal ajuda, para se entreter com a festa. Talvez alguns adultos precisassem sim. Afinal, em alguns casos, crescer infelizmente representa filtrar alegria da vida. Mas aquela alegria não era para risos contidos, era para risos escangalhados mesmo, desses que desafiam níveis de decibéis, e que se ri com o corpo todo.

E, de repente, um dos palhaços pega um balde cheio d'agua e corre atrás do outro para lhe molhar inteiro. O que fugia correu em direção à platéia para se defender atrás das pessoas. Êta gritaria... mas mesmo assim o balde foi... era confete! rsrsrs. Truque antigo, riso novo. Lembrei do João... ele estava em pé na cadeira, para buscar um ângulo melhor. Amparei-o e perguntei: "engraçado, né, meu filho?". E ele: "é...". Pela primeira vez ensaiou um riso, ainda tímido, longe dos que acompanham as levadices que ele faz em casa. E ainda emendou com um gesto como se pudesse, com fantasia, repetir o movimento de entornar o balde. Sentei-o e avisei: Olha lá! Era o mágico... Fitas enormes que saem da boca, pombos que saem da cartola, a mulher que some na caixa e aparece atrás do picadeiro. Surpresa, encantamento, magia e olhos atentos de João. Senti uma alegria enorme por ele. As pálpebras pareciam braços enormes abertos que abraçavam as luzes do picadeiro. Ficamos, eu e minha mulher ali, olhando para ele, como que lambendo a cria, quando, de repente, o mestre de cerimônias apresentou: "E agora com vocês, o menor trapezista do mundo!" Piruetas, piruetas, e um menino de uns 8 anos, com um corpo sem asas, voava como um pardalzinho . Depois vieram os outros... Corpos livres a brincar com a gravidade como brinquedo de criança. Os aplausos já não tinham mais momentos certos, e a esta altura também não existiam adultos resistentes àquela alegria.

Mas como tudo que é bom passa voando como um trapezista-mirim, o mestre-de-cerimônia já anunciava o final do espetáculo. O anúncio se fez acompanhar do tradicional aaaahhhh! E na saída o João tagarelou até dormir. A contar e recontar o que havia visto, fazendo com a linguagem o que os trapezistas fazem com o corpo. Criando, criando...

Lembrei do Belchior: "É João, a felicidade é uma arma quente..."

Riso,
Sérgio

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