quinta-feira, 10 de julho de 2008

"E agora, José? Para onde?..."

Em conversa com Waldenez

Ontem falamos sobre coisas muito importantes...
dessas que estão onde o mundo faz a curva... para as quais não há possibilidade conceitual definitiva, mesmo para os enganos... mas que são apropriadas pelas astúcias do poder, tornando alguns senhores e outros escravos (mesmo não sabidos, que é a forma mais destrutiva de submissão)...

Olhamos essas disputas tentando olhares que as superem... somos utópicos...
como quem passa em uma estrada e se compadece humanamente de uma puta....
Nessa estrada... nossa estrada... olhar passa junto com as imagens... acontece junto com elas...
as imagens são anteriores ao olhar (não temporalmente, mas intensamente... assim como o mar é anterior à onda)... existem mesmo sem olho...
as imagens desafiam o olho a existir...
deste desafio existimos... e ousamos dizer que temos um olhar sobre as coisas... será?...

Não sei... não sei... maldita ignorância socrática que me acompanha...
será que, como em Sócrates, ela em mim também é uma estratégia da ironia?... uma arma de guerra apenas?...
Refaço então a questão de ontem: que guerra lutar? com que armas? para que paz alcançar? com que alegria?...

Não sei... não sei...
A utopia é uma resposta? O que ela alcança?
Quando nosso olhar utópico supera a realidade, tentando reinventá-la, em que posição ficamos no real?
Sim... porque nunca deixamos a realidade... os outros olhares também nos olham... também nos constituem... invasivos...
o que chamamos realidade é o conjunto desses olhares que se atravessam inconstantes...
um deles... um deles... é o nosso... apenas um deles...
Não inventamos a realidade como artistas sem que ela, antes, invente nossa arte, nossos talentos...

Nossa... como isso tem me incomodado ultimamente...
não consigo entender nenhuma metafísica sem desdobrá-la numa ética...
ando escrevendo e parando textos... parece que tem uma parede que não consigo atravessar...
recentemente enviei um texto ao Julio com o assunto: "Quer continuar?"
Quem sabe o peruano não abre alguma porta, destranca a rua... rs
Na verdade, acho que ela, a parede, sempre houve... é que antes eu desviava... agora não consigo mais...

Olho os meus alunos tentando me ver neles... me ver no outro... mas os olhares atravessados me devolvem resignação... deles... minha...
Olho as paredes mofadas da escola... as pichações... as cadeiras enferrujadas... a loucura da Diretora...
tudo no ambiente faz ajoelhar, pedir perdão por existir... tudo escraviza...
Como é kafkiana a realidade... aqueles olhares não falam a língua das utopias... não superam o próprio atravessamento...
E como o que vejo neles é isso, são boas as chances de estar me vendo assim... como numa tela em preto e branco...
Sufoco...

Desculpe a falta de cores... mas a vida, ás vezes, é mesmo "faca amolada" de frio metal...

Riso,
Sérgio

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